segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Órgão da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Ilha das Flores)


O único do Grupo Ocidental, o órgão da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição parece ser um valioso exemplar do património organístico açoriano.

É um instrumento muito curioso, seguindo uma linha romântica, como podemos observar em registos como "Viola di Gamba" ou "Flauta Harmonique". Revela um organeiro com um nível de instrução pouco comum entre os nossos da época (facto curioso o de termos os comprimentos dos tubos dos registos marcados, que não era comum na organaria tradicional portuguesa). Talvez este tenha viajado e aprendido, observando e copiando aspectos de outros órgãos europeus.

É, pois, um órgão com uma registação muito rica, retirada de várias escolas (francesa, alemã, inglesa, italiana), necessitando de uma urgente intervenção de restauro.




Informação Técnica

- Localização (na Igreja): Coro Alto
- Estado: Não Funcional
- Tipo: Órgão Ibérico, de um manual
- Organeiro: Manuel de Serpa da Silva

- Teclado: Dividido (2 oitavas e uma quinta, provavelmente Dó 1 - Dó 3; Dó# 3 - Sol 5)


- Registação (8+8)

* Mão Esquerda:
Plein Jeu - 3:R:
Mixture - 4:R:
Quinta - 2 2/3 '
Flautino - 2'
Keraulophone - 4'
Viola di Gamba - 8'
Basse Flauta - 8'
Flauta Harmonique - 8'

*Mão Direita:
Basse Euphone - 8'
Euphone - 8'
Signal
[Registo desconhecido]
Trompette - 8'
Principal - 8'
Flauta Traversier - 8'
Diapason Bass - 8'

- Extras: dois Pisantes.

- Intervenções:
* Construção - em 1903, por Manuel de Serpa da Silva.


Placa Identificativa:


Manuel de Serpa da Silva
25 Rua D. Pedro IV 25
Fayal 1903 Açores



A Igreja:


Propriedade: Fábrica da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição da freguesia de Santa Cruz
Classificação: Imóvel de Interesse Público (Resolução n.º 220/98, de 5 de Novembro, publicado no Jornal Oficial , I Série, n.º 45)




História:

A actual Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição teve a sua construção iniciada nos últimos anos do século XVIII, depois de ter falhado uma tentativa de transferir a Matriz para a zona nascente da Praça do Município (actual Praça Marquês do Pombal), gorada pela existência de um lençol freático muito superficial que impedia a feitura de fundações seguras. A construção apenas terminaria em 1859, pois foram muitas as dificuldades enfrentadas para financiar a colossal obra, a qual teve mesmo de ser simplificada, designadamente no que respeita à parte superior do frontispício para poupar na despesa. Ainda assim, a Matriz de Santa Cruz, hoje imóvel classificado de interesse público, tem uma das mais imponentes fachadas dos Açores.


Descrição:

 - SÉC. XVIII / SÉC XIX -

Igreja de grandes dimensões situada num adro nivelado e elevado em relação à rua, acessível por cinco largos degraus pavimentados com calçada à portuguesa que, frente à fachada, têm uma configuração semicircular que amplia o adro. O espaço livre ao lado esquerdo da igreja, definido pela fachada lateral, pela torre esquerda e pela sacristia, é também pavimentado com calçada à portuguesa entre canteiros. As áreas que envolvem o edifício pelos lados direito e posterior são relvadas.

O edifício assume uma posição de destaque em Santa Cruz, sendo visível de praticamente toda a vila. É composto pelo corpo principal, rectangular, pelo corpo mais estreito da capela-mor, pelas duas torres sineiras e por dois corpos anexos de cada lado, nos ângulos formados pelo corpo principal e pela capela-mor, implantados perpendicularmente às respectivas paredes laterais (cada um destes anexos é constituído por um corpo rectangular mais antigo e por uma ampliação, em "L", que contorna o canto do corpo principal).

A fachada principal está dividida em três níveis por cornijas e em três secções verticais por meio de pilastras. No nível inferior, cada secção tem uma porta, correspondente a cada uma das naves. As molduras das portas têm lintel duplo e cornija e são ladeadas por colunas de fuste cónico com base e plinto muito pronunciados. Os capitéis das colunas integram-se na cornija da porta e parecem ser sucedâneos da ordem coríntia na porta central e da ordem jónica nas portas laterais. No primeiro lintel de cada porta há uma roseta em relevo. Por cima de cada capitel há um elemento bojudo que o une à cornija de separação dos níveis. Por cima da cornija há pináculos na vertical das colunas.

No nível intermédio, cada secção tem uma janela de guilhotina de duas folhas, alinhada pela porta que lhe é inferior, mas mais estreita. Cada janela tem uma moldura e um enquadramento que repete, em ponto mais pequeno, a moldura e o enquadramento das portas, mas com um avental almofadado entre os plintos das suas colunas. Em cada um destes plintos há uma inscrição em latim, sendo, da esquerda para a direita: "CONCEPTIONEM", "BEATÆ", "VIRGINIS", "MARIÆ", "CUMGAUDIO" e "RECOLAMUS". Acima dos capitéis das colunas das janelas, que são mais elaborados que os das portas, os elementos bojudos ligam a uma segunda cornija que, por sua vez, tem elementos de ligação à cornija de remate do segundo nível da fachada. Toda esta cornija apresenta zonas mais salientes no cruzamento com os elementos verticais da fachada. 

O terceiro nível da fachada tem um remate superior semelhante a um frontão contracurvado. É encimado por uma cruz de ferro a eixo. As pilastras que dividem as secções da fachada terminam no nível correspondente à base do frontão com um capitel onde assenta um pináculo embutido. Na secção central há um óculo polilobado emoldurado por um quadrado que assenta na segunda cornija de divisão da fachada. A eixo, do lado superior do quadrado, há uma concha em relevo. Acima do quadrado há um segmento de cornija que suporta, a eixo, um segmento de pilastra encimado, já no tímpano do frontão, por um quadrado rodado a 45º e rematado por um elemento decorativo em forma de concha. Em cada uma das secções laterais há um óculo cego, quadrangular, rodado a 45º, com moldura dupla, encimado por uma pequena concha em relevo. Acima de cada concha há um segmento recto de cornija, encimado por um segmento de pilastra rematado por um capitel onde assenta um pináculo, com um grande plinto, que limita as volutas que compõem o remate contracurvado do frontão.

As torres sineiras estão implantadas à face da fachada, também divididas em três níveis pelo prolongamento das suas cornijas de tal modo que parecem constituir mais duas secções da mesma. O nível inferior tem uma janela de guilhotina com molduras simples cujas ombreiras, prolongadas superiormente, formam uma moldura rectangular rematada por uma cornija com uma roseta em relevo ao centro. O nível intermédio tem uma janela semelhante mas mais baixa pelo que a moldura superior, com um elemento decorativo concheado, é de maiores dimensões. Tem, também, uma cornija sob o peitoril, suportada por duas meias-volutas que definem um avental. No centro do avental tem uma cartela sem inscrições. O nível superior das torres tem um vão de sino em cada uma das três faces livres. Os vãos dos sinos são rematados em arco de volta-inteira peraltado, assente em impostas, e apoiam numa moldura horizontal situada acima da cornija do segundo nível. As torres são rematadas superiormente por uma cornija e encimadas por uma cúpula bulbosa octogonal assente num tambor e rematada por um pináculo.
As portas das fachadas laterais têm molduras com lintel duplo e cornija, enquadradas por pilastras muito salientes assentes em plintos altos e moldurados. Há uma segunda cornija, separada da primeira por curtos prolongamentos das pilastras e rematada por um pináculo em cada extremo, onde assenta uma janela.


Das três portas de entrada da fachada principal, a axial está protegida no interior por um guarda-vento de madeira. O corpo principal está dividido em três naves, separadas por duas fiadas de cinco arcos de volta-inteira apoiados em pilares de secção quadrada, com base, plinto e capitéis salientes.

O coro-alto situa-se sobre a entrada, ocupando o primeiro tramo das naves, pelo que os arcos do primeiro tramo, que o sustentam, são mais baixos que os restantes e suportam paredes que dividem o coro em três secções. Os apoios da secção central são reforçados por quatro pilaretes em madeira, dois dos quais, de menores dimensões, ligados ao guarda-vento. A ligação entre as três secções faz-se através de portas. No coro há mais uma porta em cada parede lateral, de comunicação com as torres sineiras. Estas quatro portas têm molduras com as arestas boleadas e com duplo lintel encimado por cornija. Na secção central do coro há um órgão.

Sob o coro, do lado da epístola, há uma porta de ligação ao interior da torre onde se situa a escada de acesso ao coro. Em cada um dos pilares do primeiro tramo há uma pia de água-benta em forma de concha. Ainda sob o coro, do lado do evangelho, há um vão rematado em arco de volta-inteira assente em impostas, que acede ao baptistério. Este vão tem a bandeira raiada, em madeira trabalhada.

O baptistério, que corresponde ao aproveitamento do piso térreo da torre esquerda, tem o tecto em abóbada de berço, em cantaria à vista, assente numa cornija. As paredes são revestidas a azulejo relevado e policromado. Na parede do lado direito tem um nicho rectangular.

As portas laterais ficam na zona correspondente ao terceiro tramo. Ao lado direito da porta do lado do evangelho há uma pia de água-benta em forma de concha. Acima do nível das portas, em ambas as paredes, há quatro janelas situadas a diferentes alturas, cada uma correspondendo a um tramo.

No terceiro pilar a contar da entrada, do lado do evangelho, há um púlpito com consola de pedra em forma de grande mísula, acessível por uma escada em pedra que contorna o pilar no sentido da nave lateral para a central. O púlpito e a escada têm guarda de balaústres em madeira.

Na zona do quinto tramo, que tem o pavimento sobrelevado por um degrau, há uma porta em cada uma das paredes das naves laterais. A do lado do evangelho dá acesso à sacristia e a do lado da epístola e a uma pequena capela rectangular, actualmente utilizada como arrumo. Estas duas portas e a porta de acesso à torre têm molduras com duplo lintel e cornija encimada por uma concha em relevo ao centro e dois pináculos embutidos no alinhamento das ombreiras.

O arco triunfal é de volta-inteira, assente em impostas. De cada lado do arco, no topo das naves laterais, há um retábulo. Nas mesmas paredes de topo, acima das cornijas, há óculos circulares. Acima do arco triunfal, cujo fecho está ligado à cornija superior, podem-se ver, entre o arco e a cornija, dois elementos almofadados em cantaria em posição simétrica. Acima da cornija há um elemento decorativo em relevo ladeado por três estrelas de cada lado e encimado por uma janela quadrangular.

A capela-mor é profunda e da mesma largura da nave central. Na parede do lado do evangelho há uma porta de acesso a um compartimento de arrumos seguida por duas janelas altas. Do lado da epístola há uma composição simétrica mas com a porta emparedada. Ao fundo da capela-mor, numa zona mais elevada, há um retábulo. Este retábulo, assim como os das naves laterais, é em talha revivalista (dourada e pintada) de sabor vagamente neoclássico. As paredes e o tecto são pintados tendo painéis figurativos rodeados de motivos decorativos. 

Os tectos das três naves, da capela-mor, da sacristia e da capela lateral (arrecadação) são em madeira a simular abóbadas de berço apoiadas em grandes cornijas. Os tectos das naves e da sacristia estão pintados de azul.

Na sacristia há um vão rematado em arco de volta-inteira assente em impostas/capitéis, com fecho saliente, hoje fechado com uma parede e uma porta em madeira, que daria acesso a um compartimento, muito alterado, onde ainda se vê um lavabo em pedra.

Todo o edifício é construído em alvenaria de pedra rebocada e pintada de branco, excepto o soco, os cunhais, as cornijas, as pilastras, as colunas, as molduras dos vãos, os pináculos e restantes elementos decorativos, os arcos, os pilares interiores e a consola do púlpito que são em cantaria à vista. As coberturas são de duas águas, em telha de meia cana com beiral simples. As coberturas das ampliações dos anexos/sacristias resultam do prolongamento das águas posteriores dos corpos rectangulares originais.

Localização:
Santa Cruz das Flores
9970 Santa Cruz das Flores

Ilha: Flores
Distrito: Horta
Concelho: Santa Cruz das Flores
Freguesia: Santa Cruz das Flores

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Agradecimentos:
- Luís Henriques, pelas informações e fotos


Fonte:


 Órgão
- Atrium Musicologicum (Autor: Luís Henriques)
 - informações e fotos (artigos: Órgãos dos Açores I, Órgãos dos Açores I (2) )



Igreja

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